terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Parabéns mano!


Hoje, louvo a Deus Pai, pelo dom da vida de uma parte de mim. O meu “mano do meio”, o meu “mano grande” ou apenas e só o meu irmão e amigo hoje celebra o seu aniversário! 38 anos de vida! (Quase a chegar aos “entas”, rsrsrs)!

Celebrar a vida é de facto motivo de alegria e quando esta vida é de alguém que amamos tanto, tanto, tanto há que levantar os braços aos céus e agradecer! Além de meu irmão, és meu amigo, estás sempre lá quando preciso, não são precisas muitas palavras para me mostrares que me amas e me apoias em tudo o que faço.E quando me “puxas as orelhas” eu continuo a gostar de ti, porque só nos preocupamos com quem amamos.

Este aniversário é mais especial ainda pois a qualquer momento irás realizar o teu sonho de ser pai e eu, estou completamente certa, que serás o melhor pai do mundo pois o teu coração é do tamanho do mundo!
Parabéns mano, parabéns por mais um ano de vida, pelo dom da tua vida, por aquilo que tu és e representas na vida dos que contigo se cruzam. Parabéns e obrigada, obrigada por tudo aquilo que representas na minha vida!


Este é mais um ano em que não te posso dar um abraço pessoalmente, mas tu sabes que no meu coração, estás sempre comigo! Que faças muitos e muitos mais (e que eu veja!) e não te esqueças de poupar uns trocos para me pagares uma caipirinha no Natal J

sábado, 23 de fevereiro de 2013

No dia em que eu me apaixonei por Cristo

Querid@s amig@s,
partilho convosco um pequeno texto que escrevi ontem, inspirada por certo pelo divino Espírito Santo, no qual partilho a forma como me fui (e continuo em cada dia) apaixonando por Cristo!
É um texto extenso, mas que saiu do coração..

Espero que sirva para que todos possam também relembrar a forma, o dia, o lugar, em que se apaixonaram por este Deus que é todo Ele Amor!


“O dia em que eu me apaixonei por Cristo”
Por: Catarina António

No dia em que me apaixonei por Ti,
Estavas tu na minha casa,
Estavas preparando o almoço,
Depois de teres passado a manhã a trabalhar
Para que eu pudesse ter o conforto de um lar
E o amor de uma família.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Tu me vestias e me cuidavas,
Me abraçavas e me educavas,
Me amavas como a “mana caçula”.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Tinhas acabado de nascer, eras pequeno e cabeludo,
E tinhas a cara do teu Pai!
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Tu estavas doente, carente, debilitado e sozinho.
Estavas sentado numa grande sala retangular, num sofá rasgado,
Estavas em crise, diziam os entendidos e era um perigo parar junto de Ti.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Tu estavas carregando o teu papelão,
Caminhando entre a multidão,
Procurando por um lugar para dormir nessa noite.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Tu estavas nas costas da Tua mãe,
Numa cidade do continente Africano,
Á porta do centro nutricional,
Esperando que Te distribuíssem a “loa”.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Tu estavas sentado do meu lado, numa aula da faculdade,
Com o teu ar antissocial, maldisposto e irritado,
Perguntando-me se eu podia emprestar-Te uma caneta.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Estavas numa atividade hospitaleira,
Com dificuldade de integração
E pedindo-me companhia.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Servias aos outros vestido de branco,
Sorrindo e dando de Ti,
Amando e servindo em hospitalidade.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Eu carregava-te nos braços,
Para irmos juntos ao mar,
E tu sorrias e dizias apenas
“Boa, boa, boa! Eu quero ir pá água!”.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Pilotavas um avião,
Que sobrevoava continentes,
Tendo como um dos destinos uma cidade da Ásia.
No dia em que me apaixonei por Ti,
Vestias uns calções azuis e uma camiseta vermelha,
Subias às árvores, de catana na mão,
E procuravas a manga mais madura.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Movias as árvores e as flores,
Formavas montanhas que eu ia subindo
E no meu desalento me carregavas a mochila,
Me pegavas na mão e dizias “vamos lá mana”.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Estavas deitado numa cama,
Desnutrido, desamparado, inconsolável…
Pegavas na minha mão e a apertavas,
Deitavas pelos olhos as lágrimas do Teu coração
E me dizias “eu gosto de ti”…
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Tu eras frágil e forte.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Tu abraçaste-me com tanta, tanta força,
E disseste-me, olhos nos olhos,
“Vais fazer-me muita, muita falta”.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Tu me recebeste na cidade dos “60 dias apaixonado”…
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Eras obeso e mal te movias,
Trocavas o meu nome, falavas enrolado,
Mas tinhas uma gargalhada que ecoa a cada dia
No mais profundo do meu coração.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Estavas na missa, de braços aos céus,
Entoando sons em forma de música e pronunciando palavras
Que querias que penetrassem no coração dos outros.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Tu estavas bem do meu lado,
Onde eu menos Te esperava encontrar.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
Tu tinhas tantas formas diferentes de me olhar,
Tinhas tantas formas diferentes de me tocar,
Tinhas tantas maneiras diferentes de falar,
Tinhas tantas línguas diferentes a ressoar…  
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
A minha vida ganhou cor, os meus dias ganharam sentido,
O sol brilhou mais alto e a lua ficou mais bela.
No dia em que eu me apaixonei por Ti,
O meu coração, a minha alma e todo o meu ser,
Passou a ser Teu, totalmente Teu,
E a minha vida passou a ser Tua,
Por inteiro, sem condições,
Sem imposições, sem hesitações.
No dia em que eu me apaixonei por Ti, Cristo,
 Minha vida se tornou perfeita,
Com todas as suas imperfeições,
      E eu, eu tornei-me feliz…       
                                                                                                                                                                                                                             Por: Catarina Lopes António, Aparecida do Taboado, 22/02/2013

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Dia de "recolhimento"...

Estou a apaixonar-me por este país, por este povo....

Imaginem um dia de retiro/reflexão, num rancho (para os tugas: é como se fosse uma quinta) na beira de um rio, num dia lindo. Imaginem que nesse mesmo retiro, a "capela" e a "sala de conferências" têm como tecto as copas, verdinhas, das árvores...
Imaginem ainda que participam umas cento e poucas pessoas...
E imaginem ainda que se inicia com cânticos alegres, seguido de adoração ao Santíssimo, de partilhas, de ensinamentos, de, de...

Imaginem que as partilhas, livres, são feitas por pessoas que falam de si, dos milagres de Deus nas suas vidas, dos dons que Ele lhes concede em cada dia. E não, não é em nenhuma igreja dessas que estão a pensar (e até poderia ter sido, que valia o mesmo!), foi com católicos. Católicos que não tem medo de partilhar com os outros como Deus é bom! Católicos que não têm receio de dizer que amam a Deus e que se sentem amados por Ele. Católicos que não têm vergonha de dizer que Deus é bom, e o dizem a todo o momento...

E imaginem-se a ir até á capela do Santíssimo, improvisada mas muito bela, não coberta, bem na margem do rio... Imaginem-se a prostrar-se de joelhos frente a Ele e a sentirem aos poucos a vossa mente e o vosso coração...A pensar apenas e só em escutá-Lo.... E a conseguir ouvir d'Ele as palavras certas....

Imaginem que terminam o dia serenos. Vão na Eucaristia da paróquia, apesar de já terem ido na do retiro, e participam do agradecimento a um jovem que dedicou quase a sua vida toda á Igreja, cantando, participando, encaminhando, coordenando, enfim um daqueles anjos na terra! Imaginem que esse jovem, que agora parte para estudar na faculdade, é fruto de uma família que toda ela é uma benção! E imaginem, que ao abraçar sua mãe, seu pai e seus irmãos, vocês sentem que estão a abraçar presentes de Deus nas vossas vidas...

E imaginem, terminar mesmo o dia, a comer sorvete, numa mesa com jovens e "jovens maiores" e a sentirem que não haveria outro lugar no mundo onde quisessem estar...

Pronto, podem sossegar, não precisam imaginar mais... Este foi o meu dia de ontem...E que me deixou o coração a transbordar de alegria até agora, quase 24horas por dia.... Agradecida a Deus por tudo e por tanto!

E é verdade, estou a amar este país, esta missão e este povo...Difícil já é pensar que um dia terei de deixar este país e estas pessoas... Mas por agora, só quero mesmo viver, viver este momento, viver esta missão e ser e fazer feliz quem comigo se cruzar!

Obrigada Deus, obrigada!


sábado, 16 de fevereiro de 2013

Perguntaram-me se sou feliz...

Tenho andado meio ausente do blog e não é por nenhum motivo em particular...
Quando criei este blog, coloquei a mim mesma a "imposição" de que nunca se tornaria uma obrigação e que nem me importava muito que fosse divulgado porque o que escrevo é apenas a partilha da minha vida, a minha vivência pessoal!
Por isso, ao longo dos anos e da minha caminhada pela vida, fui dando prioridade a outras coisas e principalmente às pessoas. O blog? Escrevo quando tenho inspiração e tempo :)

Hoje decidi escrever para partilhar uma espécie de reflexão que fiz nos últimos dias!
Numa conversa banal, via messenger, um amigo que me escutou num dia menos bom, perguntou-me a determinada altura algo que me deixou a remoer...

"E nesse turbilhão todo de sentimentos, nessa vida tão vivida, tu és feliz? Adormeces e acordas e sentes-te feliz?"

De imediato respondi, sem hesitar, "Sim, sou feliz". No entanto, fiquei a pensar nisto e uma pergunta destas exige bem mais do que uma resposta rápida...Exige uma "justificação". Entendi que lhe tinha dito que era feliz mas que podia dizer que não era e que ele teria ficado na mesma. Os nossos sentimentos parecem simples para nós, mas de tanto querermos simplificar acabamos por banalizar demasiado...

O que eu queria mesmo dizer quando disse "Sim, sou feliz" era muito mais que isso...
Eu sou feliz quando acordo, porque sei que Deus já preparou um dia fantástico para mim....
Eu sou feliz quando me deito, porque Deus me proporcionou um dia cheio de momentos e de encontros, alguns físicos, outros no pensamento ou no coração.
Eu sou feliz,  porque sou amada por Deus.
Eu sou feliz, porque Ele coloca no meu caminho anjos em forma de pessoas, que caminham a meu lado, que caminham comigo em diferentes caminhadas...
Eu sou feliz, porque uma simples palavra ás vezes é suficiente para alegrar o meu coração...
Eu sou feliz, porque amo aquilo que faço...
Eu sou feliz, porque amo as pessoas com quem vivo, com quem trabalho, que se cruzam comigo e tento que, tal como Madre Teresa nos ensinou, tento que ninguém saia de junto de mim mais pobre, quero que todos os que se cruzam comigo se sintam felizes e amados...
Eu sou feliz, porque fui educada por uma família que não sendo perfeita é a melhor família do mundo para mim, que eu amo de coração e que sei que sou muito amada por todos...
Eu sou feliz, porque os meus olhos brilham com um simples abraço...
Eu sou feliz, porque o meu coração se alegra com as alegrias dos meus amigos e chora de dor quando os meus amigos estão tristes...
Eu sou feliz, porque me alegro com a chuva e com o sol...
Eu sou feliz, porque mesmo em alguns dias tendo o coração a chorar de dor, tenho sempre um sorriso para oferecer...
Eu sou feliz, porque ao longo da minha vida eu tive o privilégio de ter na minha vida pessoas fantásticas e únicas que contribuíram para que eu seja esta pessoa que hoje sou e, ainda que algumas já não estejam entre nós fisicamente, no meu coração elas estão sempre, mas mesmo sempre comigo, em tudo o que faço e sou...
Eu sou feliz pois tenho Deus a meu lado em cada momento.... E isso me basta, sentir-me muito amada por Ele, confiada n'Ele, entregue a Ele....
Quem tem Deus é sempre feliz!

Sei que alguns pensam que em dias mais cinzentos, que a missão também tem, como qualquer outra vida tem, me sinto infeliz ou não me sinto amada. Mas quem pensa assim, está redondamente enganado.
Eu também choro, sofro, também me revolto e também pergunto por vezes "para quê".... Mas de imediato sinto que Deus me acolhe em Seus amorosos braços e me sussurra ao ouvido " Eu te amo, mesmo nas tuas fragilidades e estou sempre a teu lado, mesmo sempre"....

Resumindo, Sim, eu sou feliz :) Muito feliz. Certa do caminho que escolhi, desta entrega missionária que Deus me ensina a viver, desta entrega total e desinteressada que Ele me indicou :)


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Mensagem de Bento XVI para a Quaresma 2013



MENSAGEM DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
PARA A QUARESMA DE 2013
 

Crer na caridade suscita caridade  
«Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (
1 Jo 4, 16)  

Queridos irmãos e irmãs!
A celebração da Quaresma, no contexto do Ano da fé, proporciona-nos uma preciosa ocasião para meditar sobre a relação entre fé e caridade: entre o crer em Deus, no Deus de Jesus Cristo, e o amor, que é fruto da acção do Espírito Santo e nos guia por um caminho de dedicação a Deus e aos outros.
1. A fé como resposta ao amor de Deus
Na minha primeira Encíclica, deixei já alguns elementos que permitem individuar a estreita ligação entre estas duas virtudes teologais: a fé e a caridade. Partindo duma afirmação fundamental do apóstolo João: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16), recordava que, «no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. (...) Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10), agora o amor já não é apenas um “mandamento”, mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro» (Deus caritas est1). A fé constitui aquela adesão pessoal - que engloba todas as nossas faculdades - à revelação do amor gratuito e «apaixonado» que Deus tem por nós e que se manifesta plenamente em Jesus Cristo. O encontro com Deus Amor envolve não só o coração, mas também o intelecto: «O reconhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim da nossa vontade à d’Ele une intelecto, vontade e sentimento no acto globalizante do amor. Mas isto é um processo que permanece continuamente a caminho: o amor nunca está "concluído" e completado» (ibid., 17). Daqui deriva, para todos os cristãos e em particular para os «agentes da caridade», a necessidade da fé, daquele «encontro com Deus em Cristo que suscite neles o amor e abra o seu íntimo ao outro, de tal modo que, para eles, o amor do próximo já não seja um mandamento por assim dizer imposto de fora, mas uma consequência resultante da sua fé que se torna operativa pelo amor» (ibid., 31). O cristão é uma pessoa conquistada pelo amor de Cristo e, movido por este amor - «caritas Christi urget nos» (2 Cor 5, 14) - , está aberto de modo profundo e concreto ao amor do próximo (cf. ibid., 33). Esta atitude nasce, antes de tudo, da consciência de ser amados, perdoados e mesmo servidos pelo Senhor, que Se inclina para lavar os pés dos Apóstolos e Se oferece a Si mesmo na cruz para atrair a humanidade ao amor de Deus.
«A fé mostra-nos o Deus que entregou o seu Filho por nós e assim gera em nós a certeza vitoriosa de que isto é mesmo verdade: Deus é amor! (...) A fé, que toma consciência do amor de Deus revelado no coração trespassado de Jesus na cruz, suscita por sua vez o amor. Aquele amor divino é a luz – fundamentalmente, a única - que ilumina incessantemente um mundo às escuras e nos dá a coragem de viver e agir» (ibid., 39). Tudo isto nos faz compreender como o procedimento principal que distingue os cristãos é precisamente «o amor fundado sobre a fé e por ela plasmado» (ibid., 7).
2. A caridade como vida na fé
Toda a vida cristã consiste em responder ao amor de Deus. A primeira resposta é precisamente a fé como acolhimento, cheio de admiração e gratidão, de uma iniciativa divina inaudita que nos precede e solicita; e o «sim» da fé assinala o início de uma luminosa história de amizade com o Senhor, que enche e dá sentido pleno a toda a nossa vida. Mas Deus não se contenta com o nosso acolhimento do seu amor gratuito; não Se limita a amar-nos, mas quer atrair-nos a Si, transformar-nos de modo tão profundo que nos leve a dizer, como São Paulo: Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim (cf. Gl 2, 20).
Quando damos espaço ao amor de Deus, tornamo-nos semelhantes a Ele, participantes da sua própria caridade. Abrirmo-nos ao seu amor significa deixar que Ele viva em nós e nos leve a amar com Ele, n'Ele e como Ele; só então a nossa fé se torna verdadeiramente uma «fé que actua pelo amor» (Gl 5, 6) e Ele vem habitar em nós (cf. 1 Jo 4, 12).
A fé é conhecer a verdade e aderir a ela (cf. 1 Tm 2, 4); a caridade é «caminhar» na verdade (cf.Ef 4, 15). Pela fé, entra-se na amizade com o Senhor; pela caridade, vive-se e cultiva-se esta amizade (cf. Jo 15, 14-15). A fé faz-nos acolher o mandamento do nosso Mestre e Senhor; a caridade dá-nos a felicidade de pô-lo em prática (cf. Jo 13, 13-17). Na fé, somos gerados como filhos de Deus (cf. Jo 1, 12-13); a caridade faz-nos perseverar na filiação divina de modo concreto, produzindo o fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22). A fé faz-nos reconhecer os dons que o Deus bom e generoso nos confia; a caridade fá-los frutificar (cf. Mt 25, 14-30).
3. O entrelaçamento indissolúvel de fé e caridade
À luz de quanto foi dito, torna-se claro que nunca podemos separar e menos ainda contrapor fé e caridade. Estas duas virtudes teologais estão intimamente unidas, e seria errado ver entre elas um contraste ou uma «dialéctica». Na realidade, se, por um lado, é redutiva a posição de quem acentua de tal maneira o carácter prioritário e decisivo da fé que acaba por subestimar ou quase desprezar as obras concretas da caridade reduzindo-a a um genérico humanitarismo, por outro é igualmente redutivo defender uma exagerada supremacia da caridade e sua operatividade, pensando que as obras substituem a fé. Para uma vida espiritual sã, é necessário evitar tanto o fideísmo como o activismo moralista.
A existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e a força que daí derivam, para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus. Na Sagrada Escritura, vemos como o zelo dos Apóstolos pelo anúncio do Evangelho, que suscita a fé, está estreitamente ligado com a amorosa solicitude pelo serviço dos pobres (cf. At 6, 1-4). Na Igreja, devem coexistir e integrar-se contemplação e acção, de certa forma simbolizadas nas figuras evangélicas das irmãs Maria e Marta (cf. Lc 10, 38-42). A prioridade cabe sempre à relação com Deus, e a verdadeira partilha evangélica deve radicar-se na fé (cf. Catequese na Audiência geral de 25 de Abril de 2012). De facto, por vezes tende-se a circunscrever a palavra «caridade» à solidariedade ou à mera ajuda humanitária; é importante recordar, ao invés, que a maior obra de caridade é precisamente a evangelização, ou seja, o «serviço da Palavra». Não há acção mais benéfica e, por conseguinte, caritativa com o próximo do que repartir-lhe o pão da Palavra de Deus, fazê-lo participante da Boa Nova do Evangelho, introduzi-lo no relacionamento com Deus: a evangelização é a promoção mais alta e integral da pessoa humana. Como escreveu o Servo de Deus Papa Paulo VI, na Encíclica Populorum progressioo anúncio de Cristo é o primeiro e principal factor de desenvolvimento (cf. n. 16). A verdade primordial do amor de Deus por nós, vivida e anunciada, é que abre a nossa existência ao acolhimento deste amor e torna possível o desenvolvimento integral da humanidade e de cada homem (cf. Enc. Caritas in veritate8).
Essencialmente, tudo parte do Amor e tende para o Amor. O amor gratuito de Deus é-nos dado a conhecer por meio do anúncio do Evangelho. Se o acolhermos com fé, recebemos aquele primeiro e indispensável contacto com o divino que é capaz de nos fazer «enamorar do Amor», para depois habitar e crescer neste Amor e comunicá-lo com alegria aos outros.
A propósito da relação entre fé e obras de caridade, há um texto na Carta de São Paulo aos Efésios que a resume talvez do melhor modo: «É pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque nós fomos feitos por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas acções que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos» (2, 8-10). Daqui se deduz que toda a iniciativa salvífica vem de Deus, da sua graça, do seu perdão acolhido na fé; mas tal iniciativa, longe de limitar a nossa liberdade e responsabilidade, torna-as mais autênticas e orienta-as para as obras da caridade. Estas não são fruto principalmente do esforço humano, de que vangloriar-se, mas nascem da própria fé, brotam da graça que Deus oferece em abundância. Uma fé sem obras é como uma árvore sem frutos: estas duas virtudes implicam-se mutuamente. A Quaresma, com as indicações que dá tradicionalmente para a vida cristã, convida-nos precisamente a alimentar a fé com uma escuta mais atenta e prolongada da Palavra de Deus e a participação nos Sacramentos e, ao mesmo tempo, a crescer na caridade, no amor a Deus e ao próximo, nomeadamente através do jejum, da penitência e da esmola.
4. Prioridade da fé, primazia da caridade
Como todo o dom de Deus, a fé e a caridade remetem para a acção do mesmo e único Espírito Santo (cf. 1 Cor 13), aquele Espírito que em nós clama:«Abbá! – Pai!» (Gl 4, 6), e que nos faz dizer: «Jesus é Senhor!» (1 Cor 12, 3) e «Maranatha! – Vem, Senhor!» (1 Cor 16, 22; Ap 22, 20).
Enquanto dom e resposta, a fé faz-nos conhecer a verdade de Cristo como Amor encarnado e crucificado, adesão plena e perfeita à vontade do Pai e infinita misericórdia divina para com o próximo; a fé radica no coração e na mente a firme convicção de que precisamente este Amor é a única realidade vitoriosa sobre o mal e a morte. A fé convida-nos a olhar o futuro com a virtude da esperança, na expectativa confiante de que a vitória do amor de Cristo chegue à sua plenitude. Por sua vez, a caridade faz-nos entrar no amor de Deus manifestado em Cristo, faz-nos aderir de modo pessoal e existencial à doação total e sem reservas de Jesus ao Pai e aos irmãos. Infundindo em nós a caridade, o Espírito Santo torna-nos participantes da dedicação própria de Jesus: filial em relação a Deus e fraterna em relação a cada ser humano (cf. Rm 5, 5).
A relação entre estas duas virtudes é análoga à que existe entre dois sacramentos fundamentais da Igreja: o Baptismo e a Eucaristia. O Baptismo (sacramentum fidei) precede a Eucaristia (sacramentum caritatis), mas está orientado para ela, que constitui a plenitude do caminho cristão. De maneira análoga, a fé precede a caridade, mas só se revela genuína se for coroada por ela. Tudo inicia do acolhimento humilde da fé («saber-se amado por Deus»), mas deve chegar à verdade da caridade («saber amar a Deus e ao próximo»), que permanece para sempre, como coroamento de todas as virtudes (cf. 1 Cor 13, 13).
Caríssimos irmãos e irmãs, neste tempo de Quaresma, em que nos preparamos para celebrar o evento da Cruz e da Ressurreição, no qual o Amor de Deus redimiu o mundo e iluminou a história, desejo a todos vós que vivais este tempo precioso reavivando a fé em Jesus Cristo, para entrar no seu próprio circuito de amor ao Pai e a cada irmão e irmã que encontramos na nossa vida. Por isto elevo a minha oração a Deus, enquanto invoco sobre cada um e sobre cada comunidade a Bênção do Senhor!
Vaticano, 15 de Outubro de 2012


BENEDICTUS PP. XVI

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Palavras certas no dia certo...

Quando o meu coração está mais dolorido, sempre encontro alento em Deus Pai.
Desta vez, não O procurei. Foi Ele quem veio ao meu encontro, através das palavras do Padre Alexandre, aqui em Aparecida do Taboado. Foi Ele quem me procurou, me falou e me abraçou!

E ao chegar a casa, numa passagem rápida por alguns blogs e facebooks, dei de caras com este texto que também me respondeu...

Passados quase três anos da partida da minha querida "mana" Rosália, da minha metade, da minha confidente, amiga,irmã, daquela com quem eu falava de tudo e com quem ia para todo o lado, eu ainda não sei como lidar com a saudade, ainda não sei como esquecer o seu sorriso, o tom da sua voz, o calor do seu abraço... É verdade amig@s, eu, que sou católica, que creio na vida eterna e que creio firmemente que ela está serena, em paz, num lugar melhor, e nos braços de Deus Pai, ainda não sei como lidar com a falta que ela faz na minha vida, com a falta que ela faz no meu dia-a-dia....
Hoje acordei a cantar uma música, a sorrir, e peguei no telefone para escrever uma mensagem para quem? Pois é, era para ela...Quase que a enviava, pois o número dela ainda está no meu celular e o meu coração ainda o sabe de cor...

E eis que Deus me colocou este texto "na frente dos olhos" que diz tudo aquilo que eu sinto....Obrigada Miguel Esteves Cardoso, por escreveres aquilo que eu não sabia expressar....


"Como é que se Esquece Alguém que se Ama?
Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está? 
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar. 
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução. 
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha. 
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado. 
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar. "

Miguel Esteves Cardoso, in ‘Último Volume’

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Se eu morrer antes de você...

Passo aqui hoje para partilhar um poema que, por estes dias, voltei a ler..
Sempre foi um poema que me fez sentir um misto de emoções...Desta vez, voltei a lê-lo numa pequena homenagem feita a um jovem aqui de Aparecida do Taboado que por estes dias partiu para o Pai...

E pensei, se eu partir antes de vocês, era mesmo isto que eu vos quereria dizer!

"Se eu morrer antes de você, faça-me um favor. 
Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado. 
Se não quiser chorar, não chore.
 Se não conseguir chorar, não se preocupe. 
Se tiver vontade de rir, ria. 
Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão.
Se me elogiarem demais, corrija o exagero. 
Se me criticarem demais, defenda-me. 
Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam. 
Se me quiserem fazer um demónio  mostre que eu talvez tivesse um pouco de demónio  mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo. 
Se falarem mais de mim do que de Jesus Cristo, chame a atenção deles. 
Se sentir saudade e quiser falar comigo, fale com Jesus e eu ouvirei. 
Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver.
E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase : ' Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus !'
Aí, então derrame uma lágrima. 
Eu não estarei presente para enxuga-la, mas não faz mal. 
Outros amigos farão isso no meu lugar. 
E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu. 
Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direcção de Deus. 
Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele. 
E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele. "

( Vinícius de Morais)