Uma partilha :)

Fui perdendo o hábito de escrever, regularmente, no blog enquanto estive em Timor. Muito pelo facto de não ter internet, mas também porque gosto de ser inteira naquilo que faço e onde estou. Fui sempre tentando dar eco do que vivia e experimentava, mas sempre foi tão difícil expressar por palavras o que o coração vive…

Hoje quero fazer eco, do que estou a viver aqui no Assumar. Um castelo encantado cheio de princesas, lindas...

Chegar aqui e ouvir nos corredores o nosso nome, ver os sorrisos no rosto, receber os abraços, os beijinhos, os “puxões” é das experiências mais belas que se podem ter. Mostra-nos que somos amadas, mostra-nos que mesmo estando ausente um tempo, o nosso lugar não muda. Mostra que não devemos ter medos nem vergonhas de dizer ao outro que o amamos, que nos faz falta, que é importante para nós.

Ontem na Eucaristia, o padre dizia ás princesas que quando alguém está triste, devemos chegar junto dele e dizer “Deus ama-te e eu também”….Pois aqui, não precisamos de ouvir estas palavras exatas, pois podemos senti-lo em cada gesto, em cada sorriso… Amam-nos incondicionalmente, ainda que às vezes demoremos muito a vir visitá-las, ainda que às vezes o nosso tempo não seja o tempo delas, ainda que às vezes não consigamos estar juntas…

Este castelo está cheio de crianças, princesas em miniatura como gosto de lhes chamar. Este castelo está cheio de alegria e amor!

Na tarde de ontem, tive a oportunidade de acompanhar a minha afilhada na fisioterapia. Pude ver o esforço, a dedicação de quem ensina e de quem recebe. Pude ver os seus pequenos passos, os seus pequenos movimentos… As dificuldades, que foi tendo, mas o esforço que colocou em cada tentativa… Ela queria muito mostrar-me o que era capaz…. E conseguiu….Mais do que os gestos físicos, conseguiu mostrar-me ainda mais beleza do seu sorriso, ainda mais pureza do seu coração, pureza do seu amor por mim… E quanto eu a amo também! Nunca a vi como alguém que não consegue fazer isto ou aquilo, nunca a vi apenas como a menina que só anda acompanhada do seu “carrinho”…Mas confesso que forma algumas as vezes em que pensei nela e me entristeci com as coisas que ela não poderia fazer como as outras princesas, os passeios a que não pode ir, as corridas que não pode dar… E ontem, ela deu-me a maior lição de humildade que alguém me podia dar… Mostrou-me que ela pode fazer, muito mais, que ela pode ir onde todos vão, que ela pode caminhar como os outros, mais devagar, com um pequeno apoio, mas pode….

E hoje, hoje tive um terço bem especial…As palavras entorpecidas, mas de coração…O aconchego de rezar á Mãe…Os cânticos sem vergonha (e, acreditem ou não, eu iniciava os cânticos, lol, e sem vergonha de não saber cantar…) …. E no final, um cântico espontâneo das meninas á Mãezinha do Céu... J

Sempre que venho a cá (e sei bem que devia vir mais vezes) sinto-me tão pequenina perante tão grandes corações…Sinto-me tão amada perante tão grande amor…Sinto-me bem, aqui… Elas são especiais e fazem-nos sentir especiais….

Vou ter ainda uma tarde bem rica e um domingo de Pentecostes bem cheio de abraços e partilha e, por isso, dou graças a Deus, que é Pai, que é Filho, que é Espírito Santo….

Estou....

....a preparar um texto onde vos conto mais uma novidade.... :)
A vida é cheia de surpresas e em cada dia devemos dar graças a Deus Pai pelo dom que nos concede!

Perguntaram-me onde está o "meu Deus".....

Hesitei em escrever este post, para não dar aso a más interpretações mas hoje senti-me incomodada com esta questão...
Há dias, partilhava com alguém o quanto sofri com a perda da minha querida mana vivida à distância, com a agravante de naquele ano não ter rede telefónica. Recordo que na altura, após alguma conversa, essa mesma pessoa me perguntou como eu tinha aguentado e o que me tinha mantido lá. Ás duas perguntas eu respondi "Foi o Amor de Deus e o sentir-me imensamente amada e abraçada por Ele e n'Ele."
Naquela altura a resposta que obtive foi um encolher de ombros e um "nunca vou entender essa tua fé nesse teu Deus".....
Mais adiante, conversámos sobre a situação do país, o estado da Europa, o desemprego, as famílias em sofrimento, o desemprego, enfim, conversa banal. E vimos por essa altura, um senhor de alguma idade, a recolher restos de comida dos tabuleiros que as pessoas deixavam em cima da mesa...
Por essa altura, a minha amiga perguntou-me, onde estava o meu Deus que eu tanto amava quando as pessoas passavam mal e Ele não as ajudava.... E continuou...Onde estava o meu Deus quando os que o amavam tanto e se dedicavam à missão que Ele confiava tinham de sofrer tanto no realizar da mesma (reportando-se à morte da minha mana), onde estava o meu Deus .....
Na altura veio-me à memória um texto que li há uns anos num campo de férias e que respondia totalmente a esta questão mas, à falta dele, respondi de coração aberto....
O "meu" Deus é AMOR, é VIDA e ama-nos tanto, mas tanto que entregou o seu próprio filho para nos salvar.... Ele não quer sofrimento, Ele não quer dor....Mas ambas são inerentes ao crescimento humano...Não é Deus que provoca as tragédias, não é Ele quem faz as guerras, nem tão pouco foi Ele que fez a dívida ou que colocou o nosso país no estado em que está....Foram os homens, que Ele deixou livres...E que uso se deu a essa liberdade.... O "meu" Deus, não inventou o cancro que levou a minha querida mana; deu-lhe apenas a serenidade para enfrentar essa maldita doença, deu-lhe uma família que a ama tanto, mas tanto que ainda hoje, dois anos depois, continua a programar a sua vida tendo-a sempre incluída nos planos, deu-lhe dois filhos lindos e especiais, deu-lhe um marido que a ama com tudo o que é, deu-lhe médicos e enfermeiros, voluntários e auxiliares que a cuidaram com toda a dedicação....E quando a hora dela chegou, o "meu Deus" deu-lhe a paz que ela tanto merecia.... E deu aos que a amam o conforto, o abraço, o amparo, as lágrimas e a capacidade de a recordar com sorrisos....Deu tudo isso das mais diversas formas, através de homens e mulheres que colocou no nosso caminho, através do sorriso do seu mais novo, ou na nova vida que nasceu do seio da sua mais velha, no sorriso do seu neto....
Este "meu Deus" é mesmo assim, sofre comigo e alegra-se comigo. E serena o meu coração em cada situação, deixa-me gritar, revoltar, errar, e no final, abre-me os braços e acolhe-me....SEMPRE....
Claro que voltei a ouvir que "isso são as coisas típicas que os católicos dizem e sabem de cor mas que na realidade não são bem assim"....
Continuámos por ali, ela argumentou, eu argumentei, mudou-se de assunto a determinado tempo e no fim da conversa, eu perguntei-lhe como iria ser a sua semana ao que me respondeu, de rosto entristecido "Hei-de resolver toda esta situação, se Deus quiser, hei-de resolver"..... E a minha certeza, é que este Deus em que ela não acredita mas que invoca, a ama incondicionalmente e há-de ajudá-la :)
E, um dia, vou enviar-lhe aquele texto, que lhe dará uma explicação de "católicos que sabem de cor mas que não é nada assim", mas acima de tudo que poderá ser uma luz no seu caminhar....